TJAM | CORREGEDORIA GERAL DE JUSTIÇA

corregedoria@tjam.jus.br   (92) 2129-6677     Transparência

Comunidade indígena estabelecida no Parque das Tribos participa de audiência pública do Programa Solo Seguro – Favela, por iniciativa do Núcleo de Governança Fundiária e Sustentabilidade (NGFS) da Corregedoria-Geral de Justiça do TJAM

Na manhã de quinta-feira (20), a Corregedoria-Geral de Justiça (CGJ/AM), por meio do Núcleo de Governança Fundiária e Sustentabilidade (NGFS), promoveu audiência pública do Programa “Solo Seguro – Favela” que reuniu instituições públicas, líderes indígenas e a comunidade do Parque das Tribos, no Tarumã Açu, Zona Oeste de Manaus, para tratar do tema “Reconhecimento extrajudicial das ocupações urbanas por indígenas”.


Audiência Pública Programa Solo SeguroAudiência Pública Programa Solo SeguroAudiência Pública Programa Solo Seguro

A ação cumpre diretrizes do Provimento n.° 158/2023, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que criou o movimento nacional pela regularização fundiária de ocupações irregulares nos centros urbanos – espaços popularmente conhecidos como “favelas”.

Essa é a primeira de um conjunto de audiências públicas que serão realizadas na capital para fomentar a regularização e orientar projetos para melhorar a infraestrutura da cidade de Manaus, enviando notas técnicas do Núcleo de Governança Fundiária e Sustentabilidade (NGFS) ao poder público, após a manifestação dos interessados em tais eventos.

O “Parque das Tribos” reúne famílias de várias etnias, como Cocama; Deni; Sateré-Mawé; Tukano; Dessana; Tuiuka; Tariano; entre outros, e foi reconhecido pelo poder público municipal, há mais de dez anos, como o primeiro bairro indígena em área urbana.

A audiência pública foi aberta pelo subcoordenador do NGFS, o juiz-auxiliar da CGJ/AM, Áldrin Henrique de Castro Rodrigues, que, após abrir oficialmente o evento, passou a presidência para o cacique Israel Mundurucu, um dos líderes da comunidade.

“O ‘Parque das Tribos’ é o primeiro bairro indígena do Brasil, talvez a maior diversidade étnica cultural do País com a maior comunidade de indígenas não aldeados do mundo, mais de cinco mil pessoas. Com essa audiência o ‘Parque das Tribos’ recebe do Tribunal de Justiça o reconhecimento de ser a comunidade indígena tradicional, que preserva seus costumes, sua cultura e suas línguas, porque aqui nós falamos mais de 20 idiomas diferentes”, disse o cacique. Segundo ele, a renda da comunidade é gerada pelo artesanato produzido com sustentabilidade na área que é rodeada pelo rio Tarumã e que ainda é uma área preservada por eles, onde as famílias se alimentam, pescam e se banham. “Preservamos nossos costumes, mesmo inseridos em contexto urbano, sem uma etnia influenciar a outra, porque cada um tem seu idioma, as tradições na forma de fazer e consumo do alimento e forma de tratar, da mesma maneira que é feito nas comunidades indígenas”, explicou o cacique Israel Mundurucu.

O cacique chamou atenção para a importância da audiência pública do “Solo Seguro – Favela” se estender para as outras comunidades indígenas estabelecidas em áreas urbanas de Manaus e entorno, que são mais de trinta e que não foram contempladas com o reconhecimento do poder público como bairro indígena, mas permanecem preservadas com seus dialetos, costumes e cultura.

Durante o evento os caciques, como forma de agradecimento pela iniciativa, presentearam o juiz Áldrin com um cocar confeccionado pela comunidade.

Além do contexto da regularização fundiária, a audiência pública trouxe temas correlatos dentro da proposta, como a infraestrutura, preservação de cultura e as tradições indígenas como princípio de incentivo às políticas públicas de acesso aos serviços essenciais e à cidadania, segundo o juiz corregedor auxiliar, Áldrin Henrique de Castro Rodrigues, que salientou a importância da Justiça ouvir a população.

“A expectativa é de se formular um diagnóstico amplo acerca das dificuldades experimentadas pelos povos originários que habitam a maior parte da área dos núcleos urbanos informais. O detalhe importante é ouvi-los, as instituições precisam aprender a ter um protocolo de atendimento a esses povos e é ouvindo que vamos aprender a construir uma Justiça que mais se aproxima, de fato, de um contexto social positivo, de modo a respeitar as tradições, costumes e anseios dessas populações”, avaliou o magistrado.

A representante da Associação dos Notários e Registradores do Amazonas (Anoreg/AM), Thais Batista Fernandes, esclareceu para a comunidade indígena pontos da regularização fundiária.

“É importante a gente analisar quanto tempo a pessoa está na posse do imóvel, as benfeitorias que foram realizadas, quanto tempo ocupa a área. Mas hoje temos à disposição uma gama de instrumentos jurídicos que podem auxiliar na regularização dessa terra. Precisamos fazer uma diferenciação entre tipos de ocupação: a demarcação da terra é uma garantia constitucional das terras, dos imóveis que os povos originários têm e precisam dessa proteção e demarcação da União. Todavia, isto não impede que o município possa titular áreas em favor dos povos originários, e eles estarem nos perímetros urbanos não significa renúncia aos costumes e tradições porque, essa identidade cultural também é um patrimônio histórico do nosso País e os identifica socialmente”, explicou a representante da Anoreg/AM, salientando que um dos caminhos para a regularização é a Lei n.° 13.465, de 2017, conhecida como REURB, um conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais destinadas à incorporação dos núcleos urbanos informais ao ordenamento territorial urbano e à titulação de seus ocupantes.

“Para que a cultura desses povos seja preservada é preciso dar essa segurança jurídica e é o que este encontro aqui hoje objetiva. A Defensoria Pública do Estado está se colocando à disposição com a experiência que temos junto às comunidades indígenas no interior do estado, e hoje na capital também, para auxiliarmos na produção desse procedimento de regularização fundiária extrajudicial porque é mais simples, mais rápido e a legislação permite”, disse o defensor público, Antônio Albuquerque,

O professor Bianor Saraiva Nogueira Júnior, Doutor em “Sociedade e Cultura na Amazônia” pelo Programa de Pós-Graduação – PPGSCA da Universidade Federal do Amazonas – e professor de Direito Indígena na Universidade Estadual do Amazonas, avaliou que ações feito as que vêm sendo desenvolvidas pelo NGFS e a união de esforços das entidades públicas podem mudar a feição urbana, criar impacto ambiental e distribuir cidadania.

“Na minha tese de doutorado eu trato do que eu chamo de ‘convergência de institucionalidades’, para a resolução de problemas complexos, ou emergências sociais complexas. Essas ações, envolvendo várias instituições podem resolver problemas complexos em curto e médio prazo”, disse.

Estiveram presentes também ao evento uma das lideranças da comunidade, Vanda Witoto; caciques representantes das várias etnias que integram o “Parque das Tribos”; asubsecretária Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários (SEMHAF), Zuldy Bonates; o professor Brychtn Ribeiro de Vasconcelos, Doutor em Direito (“Direito e Justiça”) pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e que integra o NGFS; além de estudantes e servidores das instituições públicas presentes ao evento.

 

#PraTodosVerem: A imagem mostra, em primeiro plano, quatro pessoas em um ambiente coberto. No centro da imagem, o juiz Áldrin Rodrigues (possui cabelo curto e escuro, usa barba; veste uma camisa social clara, está usando um cocar indígena com penas azuis predominantes e uma pena vermelha no centro; sorri enquanto segura as mãos de outras pessoas). Um dos homens que está ao lado do magistrado, também usa um cocar, só que com penas pretas. À esquerda, um homem com boné preto e colares tradicionais observa a interação, enquanto uma mulher de cabelos cacheados, presos com uma presilha, também segura as mãos, simbolizando gesto de união. Ao fundo, aparecem outras pessoas no local. Fim da descrição.

 

Texto: Sandra Bezerra | TJAM

Foto: Acervo da CGJ/AM

Revisão textual: Joyce Desideri Tino

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / TJAM

E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

(92) 99316-0660

Save
Cookies user preferences
We use cookies to ensure you to get the best experience on our website. If you decline the use of cookies, this website may not function as expected.
Accept all
Decline all
Publicidade
Youtube
Accept
Decline
Analítico
Google Analytics
Accept
Decline