Juiz do TJRN diz em Manaus que as cotas raciais nas universidades públicas são necessárias no Brasil

O sistema de cotas, que recebe críticas de parte da população, foi criado pela Lei 12.711, de 29 de agosto de 2012.IMG 9481

Manaus (AM) - O juiz de Direito Rosivaldo Toscano Jr., do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN), disse em Manaus, esta semana, que as cotas raciais nasIMG 9485 universidades públicas brasileiras são necessárias para enfrentar “o abismo social existente entre brancos e negros no País” e que esse sistema é também uma IMG 9501forma de “empoderar” a população negra. O magistrado, junto com o mestre em História Social e servidor do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) Juarez IMG 9505Clementino Jr., foram os professores convidados do Curso Direitos Humanos na Contemporaneidade, da Escola Superior da Magistratura do Amazonas (Esmam), IMG 9487sobre o tema “Questões raciais – aspectos conceituais e legais no combate ao racismo e desigualdades”.

“As cotas são necessárias porque, efetivamente, vemos um abismo social entre brancos e negros no País. Defendo a existência de cotas nas universidades”, acrescentou o juiz. No Brasil, de acordo com Toscano Jr. há um ciclo negativo e é preciso combatê-lo. “As pessoas negras geralmente estudam em escolas de baixa qualidade e terminam não atingindo o percentual necessário para o ingresso em cursos economicamente mais vantajosos e terminam preenchendo cursos periféricos. Em uma sociedade racialmente justa, a representatividade é equilibrada, tanto nos cursos com maior quanto nos de menor expressão econômica, ou seja, deve ter paridade com a distribuição racial do país”, enfatizou o juiz.

“O sistema de cotas é uma forma de empoderar, economicamente, essa parcela da população. A partir do preenchimento das cotas raciais, estará se criando um ciclo virtuoso”, continuou o magistrado. O sistema de cotas, que recebe críticas de parte da população, foi criado pela Lei 12.711, de 29 de agosto de 2012, e prevê a reserva de vagas nas universidades e instituições federais de ensino técnico de nível médio, mediante alguns critérios: raciais (índios, negros), renda mensal familiar, além de estudantes oriundos de escolas públicas e pessoas com deficiência. A ideia do sistema de cotas tem sido usada também em outros países.

Segundo a Agência Brasil, a Índia teria sido o primeiro país a adotar as cotas raciais no mundo, já na década de 30, e funcionam até hoje. A intenção é corrigir e/ou reduzir as desigualdades étnicas e socioeconômicas, oferecendo oportunidades às minorias. Ainda conforme a Agência Brasil, em reportagem publicada em maio de 2018, a chance da população negra de obter um diploma de graduação no Brasil aumentou quase quatro vezes desde o surgimento do sistema de cotas. O percentual de pretos e pardos que concluíram a graduação cresceu de 2,2%, em 2000, para 9,3% em 2017, segundo a EBC.

Desigualdades

Durante o Curso de Direitos Humanos na Contemporaneidade, os professores citaram dados sobre o racismo no Brasil: 55% da população são declarados negros, enquanto que na Câmara e no Senado Federal apenas 20% dos parlamentares são negros; na história do Presidencialismo do País, um único negro foi presidente - Nilo Peçanha; no Supremo Tribunal Federal, a mais alta Corte de Justiça do Brasil, são 11 ministros e nenhum negro. O afrodescendente, geralmente, recebe o salário mais baixo, possui o maior índice de desemprego e subemprego; os índices de escolaridade também são diferenciados, com os homens brancos atingindo mais o ensino superior e os cursos de maior projeção econômica; a juventude negra representa mais de 60% das mortes no Brasil, dentre outros dados estatísticos citados em sala de aula.

Juarez Clementino Jr, que dividiu os debates sobre as questões raciais com o juiz do TJRN, abordou conceitos históricos, antropológicos e filosóficos com o objetivo de estimular uma reflexão sobre as relações raciais. Também foi trabalhada a parte legal em vigor para o combate às desigualdades raciais.

A conscientização sobre a questão racial, para Juarez, que há mais de três décadas atua nos movimentos de negritude, é sempre necessária, apesar do avanço que já houve. “É preciso trabalhar permanentemente a conscientização, mesmo tendo ocorrido um avanço nos últimos anos em relação à consciência negra, mas percebemos situações que demonstram que estamos longe ainda do ideal. Por exemplo, ainda patinamos para termos o Estatuto da Igualdade Racial no Estado, o qual trabalharia políticas públicas voltadas para esse tema”, ressaltou Juarez.

Ele parabenizou a iniciativa de a Escola da Magistratura sempre incluir o debate da questão racial em seus eventos educacionais. “O simples fato de se preocupar em colocar esse tema na formação de magistrados e servidores é muito importante. Ocorreram situações em que membros do sistema de Justiça desconheciam a existência do Estatuto da Igualdade Racial, que foi implantado em 2010. Por isso é muito importante que, na formação dos magistrados e demais operadores do Direito, tenham informações adicionais que possam embasar as atividades desses profissionais”, comentou.

Encerramento

O Curso de Direitos Humanos na Contemporaneidade encerra nesta sexta-feira (6/12) discutindo os impactos sociais e jurídicos da Audiência de Custódia, com as magistradas Anagali Bertazzo e Andrea Jane Medeiros, ambas do Tribunal de Justiça do Amazonas.

O curso tem o credenciamento da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam), órgão máximo das escolas judiciais do Brasil, e participam servidores e magistrados do Judiciário estadual.

Os docentes gravaram um depoimento para o Portal da ESMAM, confira:

Juarez Clementino da Silva Jr.

Rosivaldo Toscano Jr.

Texto e fotos: Acyane do Valle | ESMAM

Imagem/Destaque: Reprodução da Internet (brasilescolauol.com.br)

NÚCLEO DE DIVULGAÇÃO DA ESMAM

Telefone: (92) 2129-6640 | 6608

E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

esmam locationESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO AMAZONAS
Av. André Araújo - Aleixo, Tribunal de Justiça do Amazonas 
Centro Administrativo Des. José de Jesus Ferreira Lopes 
CEP: 69060-000;
Telefone: (92) 2129-6640
E-mail: esmam@tjam.jus.br

Save
Cookies user preferences
We use cookies to ensure you to get the best experience on our website. If you decline the use of cookies, this website may not function as expected.
Accept all
Decline all
Publicidade
Youtube
Accept
Decline
Analítico
Google Analytics
Accept
Decline